5º Domingo da Páscoa – Ano B – Subsídios exegéticos

26 Abril 2024

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui Gonzales, Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno.

Leituras do dia

Primeira Leitura: At 9,26-31
Salmo: 21, 26b-27.28.30.31-32
Segunda Leitura:1Jo 3, 18-24
Evangelho: Jo 15,1-8

Eis o texto.

O texto dentro do Evangelho

O conjunto de textos que começam no capítulo 13 do Quarto Evangelho é um discurso onde é deixado o legado de Jesus ou seu “testamento”. Tudo isso é feito na mesa eucarística, onde acontece o “Lava-pés”. Por isso, no mínimo até o fim do capítulo 17, devemos manter a imagem de Jesus sentado à mesa, após ter ensinado como servir amorosamente, falando de como será a missão deixada por ele, e de como o amor será o grande sinal da unidade e chave para que realmente o mundo seja transformado.

O capítulo 15 está no centro deste discurso e abre com “o exemplo do vinhateiro e a videira”. Não se trata de uma parábola, pois aqui não é uma história a ser usada como analogia, mas um convite ao “pensamento metafórico” que, por definição, é: “um processo mental que conecta dois universos diferentes de significado (…) em busca de semelhanças”. A vinha é um símbolo muito usado para falar da relação de amor entre o Deus Libertador e seu povo nas Escrituras, como acontece no Cântico da Vinha em Is 5,1-7. No entanto, Jesus, aqui, não faz referência a Deus na perspectiva do dono ou arrendador da vinha e ele como herdeiro, como nos Sinóticos (Mc 12,1ss; Mt 12,33ss; Lc 20,9ss), mas na perspectiva de Deus como trabalhador e dele como a própria videira que Deus plantou e à qual as pessoas que o seguem devem estar intimamente ligadas e dar frutos.

O texto em si

Propomos a interpretação deste texto através da seguinte estrutura:

A – v.1
B – vv.2-4
C – v. 5
B – vv. 6-7
A – v. 8

Esta forma de pensamento, característico da mentalidade popular hebraico-aramaica, revela o centro do texto, isto é, o eixo ao redor do qual gira seu sentido. Vejamos como isto acontece:

v. 1 – Eu sou videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. “Eu Sou”, conecta esta narrativa com outras do mesmo Evangelho (“Eu sou o pão da vida”, 6,48; “Conhecereis que Eu Sou” . 8,28; “Eu sou a Porta” e “Eu sou Bom Pastor”, 10,9.11.14; “Eu sou a luz que veio ao mundo”, 12,46; “Eu sou o caminho a verdade e a vida”, 14,6). Jesus se apresenta como “videira verdadeira”, o que faz pensar que há “falsas videiras”. O termo “agricultor” em grego geórgios (indica aquele que cuida da terra, não só da videira).

vv. 2-4 e 6-7 – Permaneçam em mim! A videira verdadeira existe para que os ramos deem frutos. O Pai que corta aqueles que não dão fruto (v. 2-3). O ramo esta “limpo/puro/saudável” quando Jesus – que é “Deus-Palavra” (cf. Jo 1.1) – fala (como se fosse a seiva). Os outros versículos repetem a expressão “permanecer em mim”. O desafio da missão de Deus em Cristo é permanecer n’Ele e dar frutos.

v. 8 – Discipulado: glorificação do Pai através dos frutos dos ramos da videira. Este versículo leva de volta ao Pai apresentado no v. 1 como um agricultor! Não outra forma de seguir Jesus (discipulado) que não seja promover a glorificação do “Deus Trabalhador” através dos frutos da Videira (Jesus-Palavra).

v. 5 – O CENTRO DO TEXTO: Sem mim nada pode fazer! Aqui se dá a confluência de todo o texto, reafirmando que o fruto vem da unidade completa entre os ramos e a videira. Mas a frase forte é que sem Cristo, isto é, sem uma total comunhão com o sentido de sua Palavra, nada pode ser feito.

Buscando a unidade na práxis

Este Evangelho reforça a busca da unidade na ação amorosa que faz a conexão com Cristo com Palavra Viva. Segundo o comentário de Raymond Brown (A Comunidade do Discípulo Amado) este Evangelho lida com diversos conflitos cristológicos, isto é, uma diversidade de aproximações e compreensões do ser de Deus em Cristo e da sua humanidade, no entanto, o testemunho – a práxis cristã – é o lugar onde a unidade se torna visível. Na práxis cristã há frutos diversos, mas todos importantes. Na práxis cristã – eclesial, ecumênica, dialogal em relação à diversidade humana – é que pode ser evidenciado o agricultor (Deus Pai Criador), a verdadeira videira (Deus Filho, o Cristo), os ramos (pessoas unidas a Cristo pela fé e pelo compromisso com o Projeto do Reinado Divino) e os frutos (ações transformadoras da vida das pessoas, comunidade e sociedade).

Relacionando com os demais textos em Atos 9,26-31 vemos como os receios em relação ao antigo perseguidor da Igreja (Saulo) são superados pelo relato da sua práxis, feito amorosamente por um amigo e irmão, Bernabé. Este processo é que fez a Igreja crescer. O texto da primeira carta de João é bem enfático em relação à práxis que revela a presença de Cristo no agir das pessoas que lhe seguem e da Igreja: “não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e de verdade (…) seu preceito é que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, conforme o mandamento que nos deu” (1 Jo 3,18.24).

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