12 Março 2024
Os bispos da região da Emília-Romanha 'excomungam' Stefano Bonaccini pela deliberação sobre o fim da vida? “Não os entendo”, responde o teólogo Vito Mancuso. Por isso se abre ao diálogo: “Vamos pensar juntos em público. Vamos discutir sobre isso”.
A entrevista é de Rosalba Carbutti, publicada por Il Resto del Carlino 03-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Como católico, o senhor lança um debate com os bispos?
Se ser católico significa obedecer sempre e sem discussão à ética e à doutrina do magistério, há tempo não sou mais católico. Prefiro dizer crente. E como crente diante do suicídio medicamente assistido que entram em jogo dois princípios decisivos: a consciência e a dignidade, pilares em torno do qual gira o meu pensamento. Se os prelados quiserem discutir comigo, em harmonia, concordo plenamente. O tema é delicado, não existem certezas.
Explique-nos os dois pilares: consciência e dignidade.
Aprendi o primado da consciência com a Igreja Católica. Basta ler o catecismo ao artigo 1.800: o ser humano deve sempre obedecer ao juízo certo de sua própria consciência. Mas a Bíblia também é clara, vemos isso no capítulo 30, versículo 17 do Eclesiástico: mais vale a morte que uma vida na aflição; e o repouso eterno que um definhamento sem fim.
Em suma, diante de um grande sofrimento, é justo prever a liberdade de poder recorrer ao suicídio assistido?
Não creio que a câmara da Região se tenha enganado na resolução sobre o fim da vida. A pessoa nos casos em que se sente aprisionada e escravizada em seu próprio corpo, deve ter liberdade de escolha. E recorrer ao suicídio assistido. Até o Cardeal Martini, de quem sou aluno, numa conversa em 2006 com o ex-prefeito de Roma Ignazio Marino disse que não considerava certo condenar tal gesto.
Levando em conta o que dizem a Bíblia e o Catecismo, por que razão os bispos da Emília-Romanha, mas também o próprio presidente da CEI, Matteo Zuppi, condenam a resolução?
Poderia ser por medo das palavras? Acho que se trata de um tabu. Mas as perguntas que deveriam fazer são: acreditamos na consciência? E na dignidade das pessoas? Respeito quem decide recorrer a tratamentos paliativos e o Estado deve garanti-los a todos, mas exijo o mesmo respeito a quem faz outra escolha. Quem considera que mesmo com esses tratamentos perderia a dignidade deve ser livre de poder fazer escolhas sobre a sua vida. Essa é também a posição do Cardeal Martini e do teólogo Hans Kung no seu livro sobre a eutanásia.
Então, a Emília-Romanha está certa em aprovar essa resolução sobre o fim da vida?
Um Estado laico deve permitir que cada cidadão escreva até a última página da sua vida. Se acreditarmos na liberdade de consciência, ninguém pode aprisionar uma pessoa no seu próprio corpo.
Aqueles que acreditam em Deus, além disso, não pensam que a morte seja o fim...
Quem crê em Deus sabe que a morte não é o fim. Espera isso, acredita nisso, sabe disso. E acredita, precisamente, que será recebido pelos braços acolhedores de um pai misericordioso.
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“O fim da vida na Bíblia. Convido os prelados contrários a um debate público”. Entrevista com Vito Mancuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU